terça-feira, 21 de julho de 2009

Toque de Recolher

"Nas duas cidades, menores de 13 anos, desacompanhados, só poderão ficar nas ruas até 20h30m. Os que têm até 15 anos têm permissão para permanecer até 22h. Adolescentes entre 16 e 18 anos podem ficar até 23h." http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/05/13/patos-de-minas-em-minas-gerais-adota-toque-de-recolher-para-menores-de-16-anos-partir-de-23-horas-755843690.asp

...Foi isto que me deu um tremendo susto durante essa semana, queria até excluir o blog e esconder os textos que ainda estão guardados ali, pensei que tinham dado um golpe de estado e o velho havia voltado...

Mas "felizmente" não é a ditadura voltando, é só a nova determinação da justiça brasileira em algumas cidades que visam o toque de recolher para a diminuição do índice de criminalidade envolvendo crianças nas idades indicadas na notícia lançada no site do jornal O Globo. Além dessa, no jornal da rede Integração filiada à rede Globo, a notícia diz que na cidade de Patos de Minas, onde a determinação foi instaurada desde o dia 1° de Junho já houve a esperada diminuição.

Pareceu-me tão linda aquela reportagem, com a opinião de algumas pessoas "mais velhas" dizendo mais ou menos assim "Sim, isso é muito bom" ou "Claro, isso resolverá os problemas" ou ainda "É pelo bem de minhas crianças". Será impressionante mesmo, determinações de horários para cada idade, chega de pique-esconde depois das 20:30hs, nada de namoro na porta de casa depois das 22hs, espero que não exilem os maiores de 18, é o que falta anunciar. O "ser criança" estará dissociado ao ficar na rua, o melhor mesmo é ir para dentro assistir TV ou jogar no seu mais novo PlayStation. As pessoas tem mesmo é que ficar em suas prisões disfarçadas de casas.

Alguns professores me falam que muitas pessoas ainda tem uma visão de que algumas épocas são melhores que outras e sempre escuto de avós e tios "mais velhos" que dizem " Bom era na época da ditadura, em que não existia violência", "A segurança era realmente válida". Isso me bastou para entender a opinião dos "selecionados" pela imprensa para falar. Além, é claro, da delegada, policiais e da promotora de justiça que favoráveis à determinação deram seus depoimentos. Não vi, até agora, nenhuma opinião contrária sobre a notícia e pelo menos nas emissoras de canal aberto elitistas isso não ocorrerá, não pelo meu pessimismo, mas por um realismo me imposto pelo que vejo nos jornais e telejornais há anos. O que realmente gostaria de ressaltar aqui, é que certamente não são toques de recolher ou qualquer outra medida punitiva autoritária que irá resolver um problema que é de longa data como a criminalidade, seja ela na infância, adolescência ou na fase adulta, não se é necessário ser um especialista no assunto pra saber que medidas como essa só levam a revoltas ainda maiores que causarão o maior uso da violência para enfrentá-las. Além disso, para um jovem, o que é proibido se torna extremamente atraente. A criminalidade é um problema histórico, principalmente no Brasil, e não é da noite para o dia que se resolve, assim como muitos problemas, se resolve em um longo processo que envolve governantes e "governados".

Não estou aqui para dizer como o problema da criminalidade pode ser resolvido, mas apenas para abrir os olhos daqueles que ouviram a notícia e que porventura ainda não leram ou ouviram uma segunda opinião. Para expressar o meu "nojo" diante uma "política bombeiro" que sempre chega atrasada para apagar um fogo que já se alastrou e que se é impossível de apagar.


Maycon Dantas

Um comentário:

  1. hahaha! Por que apagar o blog? Tá legal, cara...

    Sobre essa questão do toque de recolher, acho que você levantou alguns pontos interessantes...
    A gente deve estar atento a essas pseudo-verdades, que se colocam no senso-comum.
    Essas idéias tais como: da ditadura como período exemplar, do cerceamento das liberdades como diagnóstico dos problemas sociais, de que os "outros tempos" são idílicos, e tantas outras...

    Além disso, a gente vê essa papel da mídia em "forjar" uma maneira de pensar as coisas. Mostrando o aspecto positivo daquilo que por eles é tido como o melhor.

    Como historiadores, a gente devemos ter em mente que tudo isso é destinado a imprimir um tipo de memória dominante. Que é excludente, que não leva em consideração outras memórias, outras experiências sociais.

    E nessa perspectiva do "excludente", do "dominante" é que se criam os projetos do Estado.

    Levam eles um verdadeiro prognóstico para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária? Levam eles em consideração a diversidade social e consequentemente das desigualdades? Levam eles consideração questões identitárias e de experiência social?

    Creio que na maior parte das vezes não...

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